Nos últimos anos, o setor empresarial tem se preocupado em incorporar em suas atividades, ações que tenham a ver com a sustentabilidade empresarial alinhados ao conceito ESG (Environmental, Social and Governance). Esse tipo de investimento está vinculado a empresas capazes de incorporar fatores ambientais, sociais, econômicos e de governança corporativa na tomada de decisões.

No entanto, para incluir esse critério corretamente, as empresas devem saber a diferença entre ESG e responsabilidade social corporativa (RSC). Segundo Renata Welinski, consultora de Responsabilidade Corporativa – especialista em ODS, mestre em direito internacional do meio ambiente pela USP e auditora no ABS Group, pode ocorrer confusão em relação ao significado destes termos, o que não é incomum, pois não há uma terminologia exata.

Ela aponta que quando se fala em ESG, inclui-se a análise socioambiental como parte integrante da governança da empresa e RSC refere-se às iniciativas adotadas pela empresa em prol do desenvolvimento sustentável, por meio de ações consideradas éticas pelas partes interessadas. Trata-se, portanto, de dois termos independentes, porém interconectados.

“Uma empresa pode ter RSC sem ter necessariamente adotado o ESG em sua governança. Da mesma forma, um negócio pode adotar o ESG e mantê-lo ao nível de decisões estratégicas de investimento, por exemplo, decidindo em atender apenas aos requisitos legais aplicáveis às suas operações”, diz Renata.

Além disso, a especialista aponta que a análise estatística que se tem disponível hoje em dia pode ajudar a entender a demanda do mercado sobre o ESG, mas ainda há dificuldade em compreender o que muitas empresas têm considerado como ESG, considerando-se que é possível identificar políticas, as quais, se não estão em total desacordo com a materialidade de seus negócios, desconsideram, muitas vezes, a interconexão do impacto de suas decisões estratégicas com a sua perenidade e uma eventual contribuição menor para uma atuação corporativa responsável, ou seja, aquém do que deveria ser em termos de assertividade.

Redes sociais profissionais e muitas empresas têm divulgado intensamente compromissos relacionados à ESG. Como exemplo, Renata cita empresas que poderiam atuar na minimização dos impactos ao meio ambiente e de segurança do trabalho decorrentes da periculosidade dos seus produtos e matérias-primas, as quais protagonizam outras iniciativas de RSC que não têm uma relação direta com o seu core business. Isto pode ter um efeito negativo a longo prazo, à medida que a sociedade se conscientize sobre os reais impactos relevantes da operação destas empresas.

O relatório recém-publicado coordenado pelo l’Institut de l’Entreprise, la Fondation Nationale pour l’Enseignement de la Gestion des Entreprises (FNEGE) e pela PwC France, intitulado “l’entreprise full RSE, de la prospective à la pratique, la vision des professionnels“, preconiza que a empresa do futuro, denominada « Full RSC» deverá elaborar sua estratégia na criação de valor para a sociedade/cidadãos e não para os acionistas, deverá também avaliar a sua contribuição global para o desenvolvimento sustentável, e não apenas em nível local.

A empresa deverá, na percepção de Renata, provar a sua utilidade. Isto se torna particularmente importante para as empresas multinacionais, as quais têm sido objeto de discussão no âmbito do Conselho de Direitos Humanos da ONU, de um projeto de instrumento jurídico para regulamentar, as atividades de empresas transnacionais e outros empreendimentos de negócios, o qual inclui ações direcionadas ao dever de diligência a fim de que as empresas gerenciem proativamente os seus impactos aos direitos humanos adversos e potenciais com os quais podem estar envolvidas.

Outro ponto relevante do estudo é que as funções de RSC deverão ser integradas nas várias funções da empresa, como recursos humanos, marketing, finanças, comunicação, cadeia de suprimentos, compras, direção e administração. Como exemplo, ela pontua que os profissionais de TI deverão conhecer e dominar a eco-concepção dos sistemas de informação, assim como a área de compras deverá considerar a ecoconcepção e uma redefinição dos circuitos de logísticas, os quais deverão ser mais circulares; e a área financeira deverá, por exemplo, familiarizar-se com o mercado do carbono.

As ações de RSC e de ESG são, essencialmente, de natureza voluntária, mas conforme o instrumento jurídico supramencionado, há uma tendência de criação de obrigações em relação a estes temas, como a European Directive for Corporate Social Responsibility, proposta que se encontra em análise pelos países integrantes da Comunidade Europeia e que tem previsão de votação para julho de 2022.

“O ESG encontra-se em evidência e é muito difícil que se torne um requisito legal no curto prazo, mas considerando-se que a RSC tem influenciado a adoção de requisitos legais, empresas que compartilhem destes valores podem aproveitar este tempo para amadurecer sua cultura e estratégias organizacionais”, finaliza Renata.